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Clichés, por uma ex-estudante de Erasmus em Paris 

Até quando vista em perspetiva, a cidade de Paris é daquelas que não carece de forma alguma de clichés. Mesmo olhares menos atentos captam com frequência a baguete que os franceses carregam para todo o lado, de boina na cabeça e o copo de vinho na mão, aquele que está sempre lá, a não ser em dias de festa (que são quase todos) nos quais é substituído (ou encimado) pelo copo de champanhe. Assim, permita-me o leitor que explique estes e outros clichés numa série composta por dois textos, dos quais este é o primeiro.

 

Comecemos, então, por desmitificar o que pode, de facto, ser apenas exagero. Deixo aqui, desde já, o pequeno aviso, ao leitor, que não sendo francesa gostaria de sê-lo e se para isso tenho de não me lavar – bem, nesse caso, talvez pensasse duas vezes. Mas adiante.

 

De facto, convém ao que quiser visitar a cidade das luzes que haja muitas baguetes em mão e croissants a curtos metros de distância. Realço que são os melhores do mundo – e, acrescento que, talvez o segredo seja a gordura do hábito que os franceses têm de servir tudo com as mãos, passando esta para o produto alimentar que é tão saborosamente sentido na nossa boca. Não se espante, por isso, o visitante de Paris e arredores se o empregado deixar cair o produto alimentar, o apanhar com a maior naturalidade e o apresentar ao cliente nesse estado. Para que é que existe, afinal, a regra dos 5 segundos? Para estas ocasiões, obviamente.

 

A boina, por sua vez, não é tão frequente. A não ser que falemos de Montmartre, uma das mais belas galerias de arte a céu aberto em Paris, na qual o artista expõe muito bem o estereótipo.

 

Por outro lado, merece o leitor que eu esclareça que os franceses se lavam tanto ou mais do que os restantes europeus. A não ser que estejamos a falar do cabelo ou das ruas da cidade de Paris. Dessas espera-se que perfume e beleza arquitetónica resolva o problema.

 

Tenho a adicionar, ainda, que fiz até parte do maior romantismo de todos. O copo de vinho na esplanada parisiense que abre a paisagem para a Torre Eiffel. E deixem-me que vos conte, e frise, há clichés que valem a pena. Então, percebe o leitor, que o copo de vinho é real e frequente. Saídos do trabalho ou da faculdade, os franceses dirigem-se para uma esplanada e pedem o seu copo de vinho. Acontece que, associa-se também o copo de champanhe como referi anteriormente, mas este acontece apenas em dias de festa. Cabe-me elucidar o leitor que festa para os franceses pode querer dizer aniversário, um novo emprego ou simplesmente o encontro com os amigos. Assim, saídos do trabalho ou da faculdade, os franceses vivem o cliché do copo de vinho simultaneamente ao copo de champanhe. Depois há aquele que escolhe e aquele que não sabe escolher e, portanto, bebe dos dois.

 

Gostaria de chegar a este ponto de copo de champanhe na mão, pois segundo a lógica francesa, vale a pena festejar o trabalho acabado, mesmo que este não esteja grande coisa. Acontece que, fiquei, depois de 6 meses vividos na capital francesa, convertida à ideia de que champanhe só francês, porque o português é só água que faz bolinhas.

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Texto de Carina Baptista 

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