top of page

“Vareta de Tinta” é o culminar de um processo reflexivo em que um sujeito mais ou menos
poético passa a tinta as suas inquietações. Pretendemos com esta rubrica dedicada à poesia
que os estudantes possam ler e refletir sobre os textos e, de alguma forma, se identificarem. O âmbito mais sério deste momento concede-lhe, também, uma beleza singular. Para além
disso, quem sabe se não descobres uma “artéria poética” e partilhas com o nosso núcleo.

​

Aqui escrevo incredulidades
Bradadas no silêncio dos meus olhos.
Poetizo até o ar,
Concretizo os meus caprichos.

Poeta não é entendido.
Poeta desnutre-se para ser vivido.

 

22/03/2020 (Dia Mundial da Poesia)

photo-1558481795-7f0a7c906f5e.jpg

MURO

Poeta fingido,

Âmago dorido.

Pra ti choram

Os sorrisos abocanhados.

Em ti poisa

A paz de entristecer,

Pelo que foi

E não voltamos a ter.

 

Breves brisas

Resfriam o coração,

Roxo de desgosto,

Purpo de emoção.

(Asfixiando…)

 

Que teus olhos

Trespassaram meu corpo,

Dois pedaços

Caíram ao chão.

Que o velho negro

Tornou-se muro,

E o horizonte…

Morre na tua mão.

 

Beatriz Santos

sycamore-3818150_1920.jpg

Castigo

Poema por: Beatriz Santos

james-lee-wmw4iuN9pmc-unsplash.jpg

Drenagem

Sentei-me à porta da gruta.

Aliciante sugadora de luz.

Outra vez (suspiro).

 

Porque ninguém está lá

E eu quero entrar

Para deixar de ser.

 

Adeus sangue,

Adeus alma, adeus arte.

Que eu finjo fugir da morte

Para te ter.

E não tenho. 

 

Beatriz Santos

photo%20of%20man%20closing%20his%20eyes_

«Quantos de nós já assistimos a sonhos arruinados por coisas que fogem do nosso controlo?

Às vezes dá jeito ter um plano B»

Beatriz Santos

EMBRIÃO

BEATRIZ SANTOS

​

Solidão vanguardista,

Palpitante no calor do meu útero.

Alimento-te como quem ama

O obscuro de não ter.

Nada. O infinito.

 

Cresces ao som do silencio,

O mais horrível ruído,

Mas és só um bebé.

Um frágil bebé.

Acolhido das palavras vazias

De um homem implacável.

embrião.png

(Com)Paixão

Beatriz Santos

SINOS

Os sinos tocavam

Sofregamente no cimo da torre.

Uma última homenagem

Consentânea com a perda,

Também ela barulhenta nos corações.

 

Mas o murmúrio metálico,

Silencioso para os que sofrem,

Para os que estão perto,

Torna-se demasiado audível

Aos que não sabem a história.

 

E assim foi uma alma

Embalada na tradição cristã,

Bonita de fachada.

 

Só que eu continuo sentada

Na estação cinzenta e fria,

Esperando o inter-regional

Que atrasa a minha vida.

Beatriz Santos

sinos.jpg
hggg.png

TEMO

Ela desvia o olhar

Conforme o medo elui

Pelos vasos frágeis

Do sistemático organismo.

 

A complementar ciência

Tolhe os sentidos.

Pisca a pálpebra,

Engole 2ml de cuspe

E turva fica a valsa

Que irrompe ao amanhecer.

 

Porque os arrepios são lidos,

Escritos, dançados.

Não pipetados.

 

Na verdade, ela era só míope.

Beatriz Santos

hggg.png
bottom of page