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Clichés, por uma ex-estudante de Erasmus em Paris 

Voltamos à cidade das luzes para mais um pequeno capítulo de amores. Não se estranhe, por isso, as ruas cheias de casais apaixonados. Mas clarifique-se aqui que esses são apenas os turistas deleitados pela ideia da cidade romântica. Os parisienses, por seu lado, são mais revoltados que apaixonados. De facto, permita-me o leitor que divague por uns segundos para falar da minha estadia na capital francesa – a qual foi marcada pelas quatros paredes da casa que habitei nos subúrbios. Muitos dos leitores vão conhecer a sensação, dada a atual situação e a tão recentemente levantada quarentena. Mas não, o vírus, apesar de já andar “à solta” não era ainda razão para alarme. A razão do meu confinamento foi uma birra dos trabalhadores franceses – decidiram parar todo e qualquer meio de transporte até que fosse levantada a extensão do ano da reforma, que passou dos 62 para os 64. Ora, em Portugal já vamos no 67. Desminto, deste modo, o pensamento de que “em Paris o amor está sempre no ar”.

 

Tenho a adicionar, que, apesar do exposto, fiz parte de um romantismo frequente. Aquele que existe de verdade em Paris. O copo de vinho na esplanada parisiense que abre a paisagem para a Torre Eiffel. E deixem-me que vos conte, e frise, há clichés que valem a pena. Então, percebe o leitor, que o copo de vinho é real e frequente. Saídos do trabalho ou da faculdade, os franceses dirigem-se para uma esplanada e pedem o seu copo de vinho. Acontece que, também o copo de champanhe é frequentemente associado ao francês, mas este acontece apenas em dias de festa. Cabe-me elucidar o leitor que festa para os franceses pode querer dizer aniversário, um novo emprego ou simplesmente o encontro com os amigos. Assim, saídos do trabalho ou da faculdade, os franceses vivem o cliché do copo de vinho simultaneamente ao copo de champanhe. Depois há aquele que escolhe e aquele que não sabe escolher e, portanto, bebe dos dois.

 

É também cliché conhecido associar todo o francês à torre Eiffel, dado esta ser vista da janela de todos os apartamentos, qualquer que seja o canto do território francês em que se viva. Simultaneamente, diz-se também, que os franceses adoram o campo e que, se de um lado avistam a torre, do outro já ouvem cantar passarinhos ao som de uma brisa que agita as folhas das árvores do quintal. E ainda há quem diga que não se pode ter tudo! Isso é porque quem diz isso não é francês!

 

Na verdade o patriotismo é real. Pode encontrar-se de tudo em frança e de tudo há qualquer coisa de produção nacional. E, o francês apoia devotamente a máxima que diz que “o que é nacional é bom”. Assim, justifica-se os salários mais elevados pelo estilo de vida mais caro mas a distribuição é menos, a economia funciona melhor e vendem-se, por exemplo, frutas e legumes a melhor preço do que em Portugal.

 

Passando de forma rápida pelo típico francês de camisola branca às riscas, lenço vermelho ao pescoço, a boina e a baguete (já discutidas) e simpatia inexistente, tenho a dizer que, não debatendo pela segunda vez o que foi já dito na primeira parte, o restante é puro estereótipo infundado. Os franceses são, na verdade, bastante prestáveis, se falarmos com eles delicadamente e na língua deles com um sotaque perfeito. 


Gostaria de chegar a este ponto de copo de champanhe na mão, pois segundo a lógica francesa, vale a pena festejar o trabalho acabado, mesmo que este não esteja grande coisa. Acontece que, fiquei depois de 6 meses vividos na capital francesa convertida à ideia de que champanhe só francês, porque o português é só agua que faz bolinhas.

 

Texto de Carina Baptista 

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