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Lar, não tão doce lar

“Entre marido e mulher não se mete a colher”.  Ah, Portugal, que frase tão expressiva! Tenho apenas umas mudanças a fazer…sugiro que fique: “Em qualquer relacionamento se deve meter a colher…e a polícia, quando necessário”. O que achas? Demasiado diferente? Poderia dizer que tenho pena, mas os meus lamentos estão mais direcionados para a falta de evolução nas mentalidades atuais…

“Oh, mas ele nem me bate”; “Foi só uma vez, não volta a acontecer!”. Reconheces estas citações? Ou devo dizer mentiras mascaradas com medo e até mesmo esperança de mudança?

Penso que, especialmente nos tempos em que vivemos onde o dever cívico fala (ou pelo menos devia falar) mais alto, este é um assunto que deveria ter mais tempo de antena. Violência doméstica é um tema tão atual quanto a pandemia…e mais atual do que isso só mesmo a falta de informação associada. Portugal, fazes ideia de quantos tipos de violência doméstica há? Tens consciência que grupo(s) pode(m) ser afetado(s)? 

Ora então…altura de colocar os pontos nos “i”s. Há seis tipos, cinco dos quais não envolvem violência física. Seis dos quais são diariamente menosprezados. E, relativamente a grupos abarcados, é simples: TODOS. Homens e mulheres. Desde crianças a idosos (verdadeiro significado de “De 8 a 80”…).

E então Portugal? Qual é a desculpa agora para não reportar? Impossível de encontrar…mas arranjo mais uma para o fazeres, isto claro se o sofrimento alheio não for suficiente. O facto de ser crime público diz-te alguma coisa?

Somos aconselhados a ficar em casa por motivos óbvios, mas nem todas as casas portuguesas têm associadas o ambiente de “Lar, doce lar” de que tanto ouvimos falar. Talvez esta seja uma boa altura para começar a proteger quem nos rodeia. E talvez já seja tarde demais para alguns…para 51 pessoas apenas em 2020, certamente é. Mais do que colocar os pontos nos “i”s, é hora de colocar um ponto final.

Ana Margarida Silva

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