top of page
Liberdade_.jpg

LIBERDADE?

Liberdade assume várias definições, é um vasto conceito. Se inicialmente nos pode vir à mente
liberdade política, de expressão (estas, principalmente neste dia), económica, religiosa,
esquecemo-nos de outras. Estas posso afirmar serem externas a nós, isto é, dependem dos
outros. Posso dar como exemplo o antes 25 de Abril em Portugal: A expressão artística
que representasse ideias contrárias e que fosse vista como uma ameaça ao poder era
censurada. Claro que podias escrever, pintar, mas quando decidissem que a arte que estavas
a produzir ia contra a sua autoridade, a liberdade que pensavas ter era arrancada. E que podias
tu fazer? Algo que não está nas tuas mãos, que não depende de ti pode ser chamado de
verdadeira liberdade?


Pensando nisto, esta é ainda a realidade de alguns países.
São obstáculos físicos. Esquecemo-nos de algo mais profundo, por exemplo, os obstáculos
psicológicos.


Enquanto falamos em conquista quanto à liberdade externa, a liberdade interna consuma-se
numa constante construção. E ela está lá, só é preciso compreender, tornamo-nos conscientes.
As duas podem ser alcançadas, contudo a económica, por exemplo, facilmente pode
desaparecer tal como veio. A interna - psicológica, espiritual, … - não pode ser aprisionada – é
algo nosso que sempre esteve lá.


Perguntam-me agora: Mas no mundo em que vivemos não será mais importante a liberdade
externa? Claro que é importante, mas não o podemos fazer em termos comparativos.
Numa entrevista de 2017 a Arundhati Roy, uma das escritoras que abaixo recomendo, ela faz
referência ao preconceito que ainda existe na Índia quanto à casta mais baixa, os dalits, mais
conhecidos por ‘impuros’/’intocáveis’, que são desprezados, maltratados, queimados,
espancados até à morte nas ruas e tudo isto é abafado. Tocar neles ou na sua sombra é

considerado impuro. Onde é que está a liberdade? Alguém faz alguma coisa para mudar isto?
Ela afirma que “as castas são o motor da Índia moderna”, afinal são as mesmas pessoas que
têm o poder (não necessariamente enquanto cargo, como podemos ler na entrevista) – Não
existe o ‘indivíduo’, existe a ‘casta’.


Saíram do domínio do Império Britânico e depois? Desde aí o país melhorou? Os pobres
deixaram de ser menos pobres? As pessoas tornaram-se mais livres, mais humanas, digamos?
Estas são umas das muitas questões ainda pendentes e cada um terá a sua opinião.
Falamos do 25 de Abril, de liberdade, olhamos para nós mesmos e pensamos ser livres quando
muito provavelmente não o somos. Olhamos para o mundo, para certas comunidades e
deparamo-nos com a opressão a que estão sujeitas, mas isto não significa que algumas destas
pessoas não tenham alcançado a liberdade interior.
Dificilmente eu poderei alterar o que se passa na Síria, na Índia, na China ou mesmo no meu
país.


No fim de contas, só terei esse poder de mudança em mim.
Poderíamos ainda falar da responsabilidade associada à liberdade, da interdependência, mas
isso deixo para os escritores, filósofos.
Comemoremos esta dia, mas não esqueçamos a luta que ainda temos pela frente.

​

​

CINEMA:

“Non ou a Vã Glória de Mandar”
1990 (Portugal/Espanha/França) - Drama
Direção: Manoel de Oliveira

​

“Garota Negra/ La Noire de…”
1966 (Senegal) – Drama
Direção: Ousmane Sembène

​

“A Boa Mentira/ The Good Lie”
2014 (EUA/Índia/Quénia) - Biografia/Drama
Direção: Philippe Falardeau

​

​

LITERATURA:

“Um Longo Caminho Para a Liberdade”
de Nelson Mandela

(Biografia)

​

“Rumo à Liberdade
A fuga foi só o começo”
de Slavomir Rawicz
(Romance)

​

“O Deus das Pequenas Coisas”
“O Ministério da Felicidade Suprema”
de Arundhati Roy
(Romance)

Mariana Alves.

bottom of page