À conversa com...
Manuel Felisberto
Enquanto futuros farmacêuticos, o contexto em que atualmente vivemos, repercute-se
nas mais diversas saídas profissionais que o nosso curso oferece, e, sendo a farmácia
comunitária um dos setores que maior número de farmacêuticos emprega e que, em
simultâneo, surge como estando na linha da frente de apoio ao combate desta pandemia, é
importante para nós saber de que modo os profissionais de saúde estão a atuar e quais as
dificuldades que têm vindo a sentir.
Manuel Felisberto, antigo aluno da faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, e
atualmente Farmacêutico Comunitário, partilhou connosco o que tem sido a sua rotina e quais
têm sido as suas ansiedades.
Uma das alterações sentidas, primeiramente, desde que a Covid19 atingiu Portugal, foi
na afluência à Farmácia uma vez que “inicialmente houve uma maior procura que foi
diminuindo gradualmente à medida que foram sendo implementadas as restrições à
circulação”, numa fase inicial “a reação da maioria dos utentes foi de procurar fazer um stock
de medicação” de modo a sentirem-se mais seguros, “a grande maioria dos utentes pretende
estar preparada para a eventualidade de um contágio.” Nesse sentido, tornou-se importante
garantir que os medicamentos continuariam a ser fornecidos de igual modo e advertir para o
facto de que “uma eventual escassez pode ser causada, não só pela situação que estamos a
viver mas pela procura exagerada causada pelos medos de cada um”. O Farmacêutico
Manuel Felisberto destaca ainda “o papel didático e tranquilizador do Farmacêutico” e a sua
importância na tentativa de que “a população que é mais vulnerável a esta ameaça específica
possa encarar o dia- a- dia com tranquilidade.” Farmacêutico comunitário há quase 18 anos
confessa que apesar de não ser um ancião, durante esse tempo já viveu várias realidades
muito distintas “mas nada, alguma vez, se comparou ao que vivemos agora”.
Também a rotina da farmácia sofreu mudanças, traduzidas quer do ponto de vista
espacial, o que implicou uma reorganização da farmácia, quer relativamente à equipa. O
farmacêutico admite que “é necessário capacidade de adaptação quer física quer
psicológica” a esta situação que no espaço de poucos dias mudou as suas vidas.
Quando confrontado sobre o distanciamento que a pandemia poderia estar a causar
entre os utentes e o Farmacêutico, o Dr. Manuel afirma que “o fim dos apertos de mão, dos
beijinhos e do “descansar” ao balcão enquanto contam as suas preocupações” são medidas
que apesar de distanciarem o utente do farmacêutico os une, uma vez que esta atitude
preventiva “funciona como demonstração de cuidado e de preocupação” com o bem- estar
do utente.
Para finalizar a entrevista quisemos perceber o quão difícil é para os profissionais de
saúde serem o rosto de esperança e tranquilidade quando, mesmo antes de serem
profissionais de saúde, são humanos, com ansiedades e receios, o Dr. Manuel afirmou que
“Saber lidar com os nossos receios faz parte da nossa formação e é uma obrigação
profissional (…) é essa faceta de ser o aconselhamento próximo e de ser segurança em
momentos complicados da vida que dá sentido a ser Farmacêutico de oficina. Será sempre
nessa área que podemos fazer realmente a diferença.”
Também tu um dia estarás na “linha da frente”, serás e farás a diferença!
Ana Carolina Félix