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Medo. Temor. Receio. Apreensão. Quatro palavras distintas cujo significado é o mesmo, apenas o escrevo por outras palavras, literalmente. Diria que estas quatro palavras, melhor, diria que este sentimento que se faz traduzir através destas quatro palavras, tem caminhado a par connosco, não apenas nestes últimos dias mas ao longo da nossa vida, nos mais variados momentos.

Por várias vezes me perguntaram, já pensaste fazer Erasmus? Já pensaste deixar tudo para trás e simplesmente fazer as malas e partires? Se tivesses a oportunidade de alterar radicalmente a tua rotina fá-lo-ias? E eu, o que respondo a estas perguntas? “Sim, já pensei, acho interessante mas tenho medo de não fazer as cadeiras”, “Sim, já pensei, mas tenho medo de atrasar o meu curso”, “Sim, fá-lo-ia, mas teria de ponderar os vários cenários que poderiam derivar dessa situação pois tenho medo”. O medo, infelizmente e frequentemente, domina-nos. 

Neste momento, onde estou eu? Em casa, porque as circunstâncias assim o exigem, a escrever este texto e a pensar que tive medo de fazer Erasmus porque poderia não fazer as cadeiras, que não pararia um ano com medo de atrasar o meu curso, que teria de pensar nos 1001 cenários possíveis e imaginários antes de mudar radicalmente a minha vida. Estou em casa há duas semanas e possivelmente aqui estarei por mais duas semanas, ou talvez meses, ninguém sabe. E agora penso, afinal não controlamos tudo! 

“Vê se abrandas um bocado, não ponderas nem sossegas, não pertences nem te entregas, de verdade a nenhum lado”, é parte da letra de uma música que hoje ouvia… e não poderia ser mais verdade. Agora, temos tempo de abrandar, de sossegar e de nos entregar, neste caso em concreto, àqueles que nos são mais próximos. Temos a oportunidade de conhecer melhor quem achávamos que já conhecíamos como a palma da nossa mão, temos oportunidade de nos sentarmos no jardim e aproveitar os nossos 15 minutos de sol, temos oportunidade de pensar naquela pessoa com quem não falamos há muito tempo por motivos que já nem nos lembramos mas que face ao que vivemos, neste momento, são tão pequenos… temos oportunidade de não ter medo porque afinal já percebemos que não conseguimos controlar tudo!

Encaremos esta situação com a importância e emergência que de facto ela merece, façamos a nossa parte, cumpramos o que estiver ao nosso alcance, mas, pensemos na realidade em que hoje vivemos, como um alerta e, em simultâneo, uma oportunidade de encontro com aqueles que estão tão perto de nós e que nós, porque é mais importante falar com o amigo com quem estamos todos os dias ou porque é mais importante ver as histórias da amiga que está a viajar, fazemos com que eles estejam sempre longe.

Face a esta situação, tenho um conselho, não de uma pessoa muito sábia ou com uma larga experiência de vida, mas de uma pessoa que todos os dias vai aprendendo algo novo e tenta colocar esse ensinamento em prática e passá-lo a outros. Encara esta nova realidade, à qual todos nós ainda nos estamos a adaptar, como a oportunidade, a oportunidade de mudares, se assim o sentires, a oportunidade de te encontrares e encontrares os outros e, acima de tudo, a oportunidade de perder os medos e de fazer as muitas coisas que já deixaste de fazer por causa desse papão. Não desperdices esta oportunidade! Não esperes que uma nova surja, pois não sabes quando tal acontecerá e porque acontecerá.

“Se o tempo deixasse, baralhava e voltava a dar, não ficava a ver se eu mesmo pudesse jogar”, parte de outra música que hoje tocava na minha playlist. O tempo não te deixa voltar atrás mas tu ainda vais a tempo de jogar!

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Texto por: Ana Carolina Félix

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