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SINTO

Sento-me sobre a cama, o laptop sobre as minhas pernas cruzadas neste pequeno espaço confortável a que chamo quarto. Os meus dedos gélidos divertem-se a batucar contra as teclas negras do teclado, pareço tão certa quanto ao que quero transmitir com os conjuntos de palavras que formo, mas a verdade… é tudo tão incerto. 

A visão da janela tem sido a minha maior liberdade, pareço o pequeno Simba a visualizar o reino ao longe. Este mundo nunca foi meu mas eu pertencia-lhe. Agora não o sinto assim, sinto que estamos proibidos de saborear aquilo que tem para nos oferecer, à conta de algo que nos veio ensinar alguns valores, ensinar que tomamos tudo por garantido e não valorizamos a vida como a devíamos, a vida lá fora. 

Tenho saudades. Saudades das cores, dos sons de uma cidade cheia e ocupada, da frescura do vento matinal quando estou numa correria para chegar a horas à faculdade e levar meio dia a reclamar que tenho sono e fome, de reclamar do cheiro a café nos anfitriões, saudades dos eventos, dos agrupamentos, da natureza e todas as suas formas de expressão, enfim…. Saudades da vida, da boa ansiedade do que estava por vir.

Nos meus ouvidos tenho a tocar If the world was ending, chega a ser curioso dada a situação. Um pouco dramático, talvez, mas assim o parece em certos dias.

Parece…parece não, sei. Sei que a vida deu uma pausa, sinto que estou a perder momentos e memórias e que tudo parece tão incerto que chega a ser desmotivante a certo ponto. Não consigo evitar. É uma incerteza avassaladora que me arrasta para um poço de vários ‘E se?’. Tudo deu uma reviravolta e a partir de agora teremos que nos moldar em torno desta situação e viver com ela. Às vezes parece apenas um pesadelo, outras é tão real que me encontro a pedir uma máquina do tempo e impedir que tudo descarrilasse desta maneira.

Agora sinto um peso, o que estava por vir tornou-se um receio e o futuro mais incerto do que antes. Não sei onde isto vai parar mas espero que bem e o mais rápido possível para que voltemos à vida lá fora, a vida que nos enche o coração.


 

Texto por: Mónica Cabral

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