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'C'est une révolte? Non Sir, c'est une révolution'

|Xavier Dolan|

 

20 de março de 1989 

Montreal, Québec

Diretor; Ator; Roteirista; Produtor


 

Poderia falar de cineastas tão reconhecidos e pujantes como Kubrick, Lynch, Almodovar ou Coppola.

 Mas porque não falar de um jovem ‘diamante em bruto’?

Embora com menos experiência, desde o seu primeiro filme, deu mais que sinais do seu talento.

Dolan inicia a sua carreira artística como ator em tenra idade, mas aos seus 20 anos, para nosso enlevo, começou a traçar o seu caminho como cineasta com o lançamento da sua primeira longa-metragem.

 

 “J’ai tué ma mère” (2009) …

 

 O seu primeiro ‘filho’ com um nome tão arrebatador, produzido, dirigido, representado e financiado por si, aborda a homossexualidade, o modo como esta é encarada pela figura materna e a confusão normal de um adolescente em (trans)formação, baseado na sua experiência de vida.

Todo o cinema de Dolan compreende um conjunto de temas fulcrais que nos afetam mais ou menos, sendo desconstruídos e integrados de um modo curioso no audiovisual, para além dos ‘seus típicos hábitos’ como a câmara lenta, as mensagens subliminares, especialmente em relação a objetos domésticos que ganham quase que uma dimensão psicológica, as cores (em “Laurence Anyways” temos o vermelho emanando uma importância tremenda, enquanto em “Les Amours Imaginaires” temos o azul), as personagens ‘escondidas’, não sendo centralizadas no plano de imagem (em ‘J’ai tué ma mère’ vemo-las ou do lado direito ou esquerdo do cenário, raramente num plano central), o que confere imersividade e um acompanhar de emoções que se vão alterando ao longo do enredo.

É considerado um representante do ‘cinema LGBT’ ao abordar temas como a “a homossexualidade e como a vivemos, como a percebemos, como a rotulamos, e como a organizamos como sociedade” (palavras de Dolan quanto ao filme “The Death and Life of John F. Donovan”), tendo ganho um Queer Palm relativo ao melhor filme com estas temáticas. Contudo, como o próprio diz, não gosta de ver os seus filmes rotulados desse modo, seja porque aborda estes temas, seja pelo próprio ser homossexual.

Não me prolongando, mas querendo partilhar o filme do universo Dolan que, sem sombra de dúvida, me marcou mais até ao momento e está numa espécie de ‘top list’ - falo de “Laurence Anyways” (2012). 

Conta a história de um professor de literatura que decide comunicar à sua namorada que se sente mulher e que se quer assumir como tal.

 A relação de apoio mútuo e cumplicidade que contrariara o preconceito social e familiar até então, sofre um ponto de rutura e os seus caminhos separam-se, permanecendo apenas o amor que nutrem um pelo outro.

A transsexualidade aparenta ser o tema central, contudo é Laurence (professor), a pessoa, a sua indecisão, a sua complexidade, que é o núcleo de todo o filme; é disto de que ele é feito; é para falar de amor.

Um ponto que julgo de extrema importância e que serve para desmistificar ideias é o facto de que mesmo se assumindo mulher, Laurence não é gay, algo que gera confusão para algumas personagens da trama, incluindo a sua namorada, e dá a premissa para distinguir habilmente género de orientação sexual.

Na brilhante jornada pelo cinema de Xavier Dolan que está a ser feita pela RTP2, conheci este épico, esta obra-prima.

Uma imagem suprema e eletrizante; a banda sonora (que Dolan indubitavelmente sabe escolher), de Depeche mode, passando por Visage até Moderat; os diálogos extasiantes; atores de topo que dão vida a estas personagens de uma maneira muito própria – tudo, sem exceção, me faz afirmar que é um dos filmes mais incríveis que já vi. E, embora sejam quase três horas de filme que poderiam colocar o objetivo em risco, todos os minutos foram necessários - é a duração certa.

Consegue 'contagiar-nos' através do cinema e maravilhar-nos a cada segundo, principalmente porque todos os seus filmes acabam por carregar um bocado da sua história.

Com filmes Indicados e vencedores de diversos prémios, maioritariamente do Festival de Cannes e um César por “Mommy” como melhor filme estrangeiro.

Sugiro que quando surgir um tempo na tua agenda, faças uma maratona de Dolan, se ainda não o fizeste. Permite-te abrir horizontes, não só em termos de matérias representativas da nossa sociedade, mas também quanto ao cinema em língua francesa.

 Como tal, aqui fica a lista dos filmes por ordem cronológica, cujo link para o trailer está inserido:

“J’ai tué ma mère” (2009); “Les Amours Imaginaires” (2010); “Laurence Anyways” (2012); “Tom à la ferme” (2013); “Mommy” (2014); “Juste la fin du monde” (2016), “The Death and Life of John F. Donovan” (2018) em língua inglesa e o mais recente, “Matthias & Maxime” (2019).

 

E, com todos eles, traz os ‘rebeldes’ ficcionais, mas tão reais e um pedaço da ‘révolution’ de que tanto carecemos para quebrar tabus e mudar mentalidades.

 

M.

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